Matéria do Jornal O Liberal - Do aço ao papel. Quem trabalha com cooperativas e empresas de reciclagem, sabe que entre os materiais reaproveitáveis, como papel, vidro, plásticos e o metal, o alumínio tem o maior percentual de reutilização no Brasil (97,9%), e isso porque ele tem o maior valor de mercado, por suas propriedades físicas e químicas, como a alta condutividade elétrica e térmica. Mas, se a reciclagem dá retorno econômico e sabe-se que quanto mais se recicla menos se polui o meio ambiente, por que esta atividade não é expressiva?

Em Belém, o pesquisador Norbert Fenzl, do Núcleo de Meio Ambiente (Numa), da Universidade Federal do Pará (UFPA), vai direto ao 'x' da questão. "O que impede uma verdadeira explosão da atividade de reciclagem é a falta de política pública. Um exemplo é a falta de coleta seletiva”, diz ele, que é doutor em Hidrogeologia e Gestão de Recursos Hídricos pela Universidade de Viena, com pós-doutorado, também em Viena, em Ciências Ambientais, naquele país.

Fenzl tem exemplos de pesquisas do Numa/UFPA que demonstram o retorno financeiro do reaproveitamento de materiais sólidos e líquidos, normalmente descartados. Entre elas, ele citou os estudos como os de Waldilene Garcia, no mestrado iniciado no ano de 2019. Ela promoveu uma pesquisa com um grupo de pequenos agricultores da comunidade de Camurituba-Beira, em Abaetetuba, e constatou a viabilidade econômica da produção de adubo orgânico em quantidade e qualidade adequadas para aumentar e diversificar a produção agrícola.

Da Universidade à prática social

“Eu virei uma referência na minha família em reaproveitamento de materiais”, diz Solange Reis, que passou a ganhar dinheiro vendendo sabão artesanal com o óleo de cozinha que antes ia pelo ralo. Moradora do bairro da Cabanagem, em Belém, Solange não conhece o professor Norbert Fenzl, mas a trajetória deles tem ligações estreitas. É que o conhecimento prático adquirido por Solange, que aprendeu a fazer sabão artesanal, resulta justamente da pesquisa de mestrado de Waldilene Garcia, a orientanda do professor no Numa.

Norbert Fenzl recordou que, nos estudos em Abaetetuba, a mestranda Waldilene Garcia promoveu oficinas teóricas e práticas sobre a produção de adubo orgânico, por meio da compostagem, para oito pequenos agricultores produtores de hortaliças, mandioca, pupunha, cupuaçu, açaí, castanha e banana.

Em síntese, ela conseguiu desenvolver três tipos de compostagem e demonstrou que o novo adubo, sem agrotóxico, pode contribuir para o desenvolvimento econômico local, porque ele melhora a qualidade do solo, aumenta a produtividade, valoriza os cultivos produzidos organicamente e reduz os gastos com a compra de adubo industrializado.

Atividade lucrativa

No ano de 2021, a partir da coleta adequada dos resíduos sólidos, Waldilene Garcia trabalhou a produção de adubo, bio-fertilizante e sabão caseiro, junto a moradores de Belém, Ananindeua e Marituba, que frequentam as Usinas da Paz, do programa Território pela Paz, do governo estadual. O objetivo para além da ação sustentável era o de também gerar uma atividade lucrativa para melhorar a renda das pessoas.

"A coleta seletiva é uma alternativa importante para melhorar não somente o aspecto deplorável e insalubre das nossas ruas e aumentar a vida útil dos aterros sanitários, mas é sobretudo uma maneira de fortalecer cooperativas e gerar renda para as pessoas que vivem na informalidade ou estão desempregados", diz Wladilene no texto de um artigo, do ano de 2021.

Na ponta dos estudos de Waldilene, estão pessoas como Solange Reis, que é formada em engenharia civil, mas estava desempregada desde o início da pandemia em 2020. Ela contou que fez os cursos sobre o sabão artesanal na Usina da Paz, na Cabanagem, e desde então passou a vender sabão e, também, dá cursos para quem se interessa em aprender a técnica, utilizando o próprio óleo de cozinha, que normalmente, vai para o ralo da pia.

“Minhas vendas foram boas hoje, fiz 120,00 reais em três horas e meia, em um ambiente fechado. Também fiz alguns contatos para futura encomenda”, afirmou Solange, referindo-se à participação dela na feirinha de produtos da agricultura familiar, organizada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), na sede da secretaria, no bairro do Marco, em Belém, na última sexta-feira (16).

Veja os 5 desafios da reciclagem:

Falta de coleta seletiva.

Falta de informação.

Desinteresse político.

A tributação.

A falta de padronização.

Fonte: https://www.oliberal.com/economia/materiais-alternativos-tem-potencial-delucro-e-novos-negocios-1.625450