Em primeiro lugar, antes de fazer uma análise prospectiva de 2025, é preciso realizar uma avaliação retrospectiva de 2024. Diferentemente do que muitos analistas pessimistas do mercado apregoavam (e erraram!), os resultados macroeconômicos do ano de 2024 foram surpreendentemente positivos. O Produto Interno Bruto (PIB) deve encerrar o ano em aproximadamente 3,5%, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI); a taxa de desemprego recuou para 6,4%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); enquanto o salário mínimo foi reajustado pelo Governo Federal para R$ 1.320,00, garantindo um aumento real acima da inflação.
O ano de 2025, desta forma, desponta como uma etapa importante para o planejamento da economia brasileira, onde a consolidação de reformas estruturais e o enfrentamento de problemas históricos exigirão equilíbrio entre crescimento econômico, controle inflacionário e melhoria das condições relacionadas ao bem-estar social (saúde; educação; moradia e transporte), ao mesmo tempo em que será fundamental evitar armadilhas que perpetuam desigualdades e comprometem o desenvolvimento sustentável.
Nesse contexto, duas decisões destacam-se em minha análise como pilares dessa agenda: 1º) a reforma tributária; e 2º) a implementação integral do pacote de ajuste fiscal proposto pelo Governo Lula, ambos essenciais para construir um ambiente econômico mais justo e competitivo.
A reforma tributária, peça central da agenda econômica do atual Governo, avança com a proposta de unificar tributos sobre o consumo em um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), iniciativa que busca eliminar a cumulatividade, simplificar o sistema tributário e mitigar a regressividade que penaliza as famílias de baixa renda.
Sobre esse ponto, é pertinente fazer uma breve, porém, necessária ponderação sobre o sistema tributário brasileiro. Um sistema tributário é considerado progressivo se consegue arrecadar mais de quem dispõe de mais recursos, renda e patrimônio; ao contrário, um sistema é regressivo se ele arrecada proporcionalmente mais de quem ganha menos. Dito isso, o atual sistema tributário do nosso país é extremamente regressivo para com as famílias mais humildes. Assim, além do IVA, medidas como o cashback tributário, voltado para a devolução parcial de impostos a famílias vulneráveis, representam avanços concretos na direção de um sistema mais justo e eficiente.
O debate sobre o ajuste fiscal, no entanto, suscita reflexões críticas, pois, embora a busca pelo equilíbrio das contas públicas seja essencial, há o risco de se replicar um modelo de austeridade que historicamente restringe investimentos sociais e produtivos, transferindo recursos da maioria trabalhadora para uma minoria rentista.
Esse mecanismo, ao reforçar a concentração de riqueza, fragiliza as bases de resistência social e limita o potencial de crescimento de longo prazo, evidenciando a necessidade de um ajuste fiscal bem planejado que priorize cortes em despesas menos estratégicas e redirecione subsídios para setores com maior retorno social e econômico. A política monetária, por sua vez, desempenhará papel crucial nesse processo, já que a manutenção de taxas de juros elevadas, embora eficaz no controle da inflação, compromete o dinamismo econômico ao restringir o consumo e os investimentos privados.
A futura gestão de Gabriel Galípolo no Banco Central (BC) traz expectativas de uma tendência de maior alinhamento com as diretrizes macroeconômicas do Executivo, enfatizando políticas que estimulem o investimento produtivo, ampliem o crédito e reduzam os custos financeiros. Galípolo, por sinal, já sinalizou a possibilidade de adotar uma condução monetária mais flexível, capaz de equilibrar o controle inflacionário com o crescimento econômico e a geração de empregos, marcando uma potencial mudança em relação à rigidez ortodoxa que tem caracterizado diversas gestões do BC.
Do ponto de vista internacional, o Brasil enfrentará um cenário que inspira preocupação, uma vez que economias de grande relevância, como a dos Estados Unidos, da Rússia e da União Europeia, têm atravessado um período de desaceleração econômica por diferentes motivos. De forma breve, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia enfrentam políticas monetárias mais restritivas e pressões inflacionárias, a Rússia lida com os impactos econômicos e geopolíticos das sanções internacionais e da guerra na Ucrânia. Esses fatores podem repercutir no desempenho das exportações brasileiras, especialmente em bens manufaturados e produtos de maior valor agregado.
Por outro lado, a China, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, vive ajustes estruturais importantes, incluindo a desaceleração no setor imobiliário e mudanças em sua política de estímulo ao consumo interno, o que também pode influenciar a demanda por commodities brasileiras.
Esses fatores podem afetar a demanda por produtos brasileiros de destaque, como minério de ferro e soja, evidenciando a necessidade de diversificar a pauta exportadora e adotar estratégias que reforcem a competitividade e estimulem a inovação tecnológica. No cenário doméstico, setores como a agropecuária e a tecnologia da informação – com ênfase nas aplicações de inteligência artificial – apresentam projeções de expansão para 2025, enquanto a indústria de transformação e a construção civil podem experimentar algum grau de desaceleração em seu ritmo de crescimento, influenciadas por restrições de crédito e custos elevados de financiamento.
A dependência do agronegócio, embora seja estratégica, exige esforços no sentido da incorporação de técnicas/práticas sustentáveis que vão muito além de um modelo básico de governança ambiental. Em regiões como o Estado do Pará, onde a COP-30 trará visibilidade global às dinâmicas locais, será indispensável avançar em políticas integradas que combinem preservação ambiental, manejo sustentável e combate a atividades ilegais como o desmatamento e a grilagem de terras.
A transição para tecnologias limpas e modelos produtivos inovadores, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), deve ser acompanhada de iniciativas que fortaleçam a bioeconomia, promovam investimentos em infraestrutura verde e incentivem a qualificação da força de trabalho local. Essas ações precisam ser articuladas de forma a construir um complexo sistema – em nível macro e micro institucional – capaz de equilibrar eficiência econômica, justiça social e sustentabilidade ambiental, consolidando o Brasil, especialmente o Estado do Pará, como uma referência global em desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
Logo, o Brasil, com destaque para o Estado do Pará, tem diante de si a oportunidade de (re)configurar suas bases econômicas para consolidar um modelo de desenvolvimento socioeconomicamente viável, especialmente voltado para atender uma parcela expressiva da população mais vulnerável. A superação do paradigma de austeridade, que historicamente prioriza a estabilidade fiscal e os interesses do mercado em detrimento de investimentos sociais e produtivos, é essencial para romper com a lógica de concentração de riqueza e apropriação dos recursos naturais, além de fortalecer a capacidade do Estado de induzir crescimento econômico.
Essa transição, contudo, exige não apenas a diversificação da base produtiva paraense, mas também uma abordagem integrada que valorize setores estratégicos como o da bioeconomia, de tecnologias limpas e de agregação de valor às cadeias produtivas tradicionais, especialmente no agronegócio e na indústria.
Portanto, a implementação de políticas que promovam a inovação tecnológica, a qualificação da força de trabalho e o fortalecimento de cadeias produtivas regionais, especialmente em estados estratégicos como o Pará, é indispensável para que o Brasil se posicione como um líder, de fato, em sustentabilidade e justiça econômica. Assim, o crescimento consistente e sustentável em 2025 dependerá da capacidade de alinhar as demandas internas por desenvolvimento às exigências de um mercado – interno e externo – cada vez mais competitivo.
Por fim, e não menos importante, deixo meus votos de um Natal de muita felicidade e um 2025 marcado por conquistas, saúde e sucesso para toda a comunidade acadêmica desta Universidade Federal do Pará (UFPA).
Sobre o autor: André Cutrim Carvalho: Professor-Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia/Núcleo de Meio Ambiente (PPGEDAM/NUMA) da Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.