Um desafio a ser vencido que demanda a união de esforços para conter os avanços causados pelos fatores naturais ou não que resultam na mudança das águas claras do rio Tapajós e trazem outras consequências. Essa foi a proposta do workshop "Diálogos sobre a bacia do Tapajós no estado do Pará" promovido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) na última quinta-feira (10) na sede do Centro Integrado de Monitoramento Ambiental (Cimam), de maneira híbrida.
A iniciativa, conduzida pelo titular da Semas, Mauro O’de Almeida, teve como finalidade reunir e propor estudos para identificar e apontar possíveis soluções a partir das competências do Estado frente à problemática que vem afetando o Rio Tapajós, e ocasionando o aumento significativo da turbidez das suas águas, desde o final do ano passado.
O diálogo teve início com a localização geográfica da bacia do Tapajós e suas características principais. O rio é formado pelos rios Teles-Pires e Juruena, no estado do Mato Grosso, onde já há uma intensa dinâmica do uso da terra que envolve pecuária, agricultura, mineração e geração de energia. No Pará, 93% da área ocupada pela bacia do Tapajós está sob jurisdição federal, a exemplo de terras indígenas e Unidades de Conservação Ambiental. Sobre essas áreas protegidas concentra-se 81% de todo desmatamento ocorrido em função de atividade mineral no período 2016-2021, segundo dados do Sistema de Alertas DETER do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O fator do aumento do nível da água, influenciado pelo rio Amazonas, chegando em até 250 milímetros no ano passado, e fazendo com que 2021 apresentasse nível climatológico acima da média, foi um dos fatores também considerados durante o encontro.
Entre os participantes estavam representantes da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Universidade Federal do Pará (UFPa), Instituto Evandro Chagas, MapBiomas, além do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam). Geólogo e oceanógrafo, representando o MapBiomas, César Diniz destacou que o problema visto na região pode ser causado por diversos fatores. “ A presença de sedimentos no rio Tapajós não é de agora, porém, o garimpo nunca teve tanta influência como no período em que estamos vivendo, acompanhado também de outros fatores, como a quantidade de cidades presentes próximas ao rio que acabam despejando os seus esgotos na água e também a presença de pecuaristas nas regiões, assim como o aumento da água do rio. Lembrando que uma coisa não anula a outra”, explicou.
Observatório
Foto: Maycon Nunes / Ag. Pará
Durante o diálogo, o integrante do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA, Otávio do Canto, sugeriu a criação de um observatório para aprofundar os estudos acerca dos acontecimentos. “O observatório proposto é para que aqueles que estudam a região possam colaborar para a gestão atual da Secretaria, apontando a multiplicidade dos fenômenos que fizeram acontecer o que se viu recentemente, se aprofundar sobre os fatores de ordem natural, mas sobretudo a dinâmica de como as coisas vêm ocorrendo”, afirmou Otávio.
A proposta foi acolhida pelo secretário de Meio ambiente e Sustentabilidade, Mauro O’ de Almeida, que ressalta a magnitude e a riqueza de informações reunidas durante o workshop. “Foi uma reunião histórica. Nós conseguimos reunir tudo o que de melhor se tem do ponto de vista científico no estado do Pará. Com instituições paraenses, federais, que atuam no estado, com a exposição de tudo que já vem sendo estudado na bacia do Tapajós, seja por geólogos, biólogos, ou seja, várias facetas da ciência hoje foram colocadas aqui, em que várias ideias foram colocadas, inclusive com a criação do observatório da bacia do Tapajós, o que é muito importante. Nós queremos fazer um embrião, algo estruturado para que a gente possa coordenar ações positivas na bacia do Tapajós”, destacou Mauro O’de Almeida.
Integração
Andréa Coelho, assessora técnica da Semas, informa também que a sinergia de interesses e de preocupações em tentar dirimir os problemas é essencial devido à sua complexidade em função das características da bacia do Rio Tapajós, que abrange o estado do Pará, parte do Mato Grosso e uma pequena porção no Amazonas.
“Talvez nós não tenhamos uma solução, mas sim, precisamos buscar várias soluções para o problema do rio Tapajós. Noventa e três por cento da área da bacia está sob jurisdição da União, isso reforça a necessidade de haver uma sinergia de esforços nas diferentes esferas de poder, principalmente a estadual e federal, mas não isentando os municípios que são o poder público local, então, a gente precisa compor esforços, não dá para dizer que uma única esfera do poder vai conseguir resolver. Dentre esses esforços é necessário compor articulações com o estado do Mato Grosso para avaliar os processos que estão ocorrendo nesse território, pois existem múltiplos fatores que contribuem para a atual condição do rio quando ele percorre o estado paraense”, enfatizou.