A humanidade assistirá a mais uma Conferência sobre Mudanças Climáticas e discussões sobre a redução de CO2. O debate iniciou-se em 1971, devido aos impactos socioeconômicos causados por enchentes, secas e ciclones. O principal documento em debate é o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que seleciona dados científicos existentes, de acordo com critérios próprios, para fornecer argumentos sobre a influência da atividade humana sobre as mudanças climáticas.

O último relatório do IPCC afirma que a mudança climática se deve “muito provavelmente – ou seja, com mais de 90% de certeza – à ação humana” através da emissão de gases do efeito estufa, que causariam um aumento da temperatura global entre 1,8 oC e 4 oC até o final do século.

Uma ampla análise de artigos científicos mostrou que há um grupo significante de cientistas, chamados céticos, que diverge do IPCC sobre o papel dos gases de efeito estufa como fator determinante no aquecimento global.

A atividade industrial, agropecuária, o uso de energéticos fósseis emitem CO2, inclusive a respiração da população mundial produz cerca de 2 bilhões de toneladas de CO2/ano. Em comparação, a frota mundial de veículos emite cerca de 1,8 bilhão de toneladas de CO2/ano.

Os céticos consideram que mudanças climáticas são fenômenos normais da evolução do planeta, causados principalmente por modificações do eixo de rotação da Terra e da órbita em torno do Sol, variações da atividade e radiação eletromagnética solar e fatores oriundos da nossa Galáxia e do núcleo da Terra. O clima, como fenômeno não linear de altíssima complexidade, resultado da interação de inúmeros fatores, não poderá ser controlado simplesmente com a redução da emissão do CO2, cuja concentração na atmosfera é de 0,03%.

A mídia, políticos, governos e cientistas afirmam que o aquecimento global é o “apocalipse climático” do século. Provavelmente, estamos numa fase de aquecimento global, saindo da pequena era glacial medieval da segunda metade do milênio passado. A questão é se a humanidade é responsável pela Mudança Climática, e se a redução dos gases estufas pode nos salvar.

Aqui cabe uma reflexão. Antes de pretendermos modificar o clima mundial, que depende de poderosos processos geológicos e astronômicos, não seria necessário resolver os problemas causados por nós mesmos e que podem levar a humanidade ao apocalipse?

Exemplos. O gasto militar mundial é de mais de US$ 1,7 trilhão anual, enquanto o orçamento total anual da ONU é de apenas 1,8% desse valor. Hoje 60 milhões de pessoas estão fugindo de guerras em 16 países.

A salvação do corrupto sistema financeiro mundial nos custou cerca de 15 trilhões de US$, enquanto a dívida externa dos países classificados como pobres é de somente US$ 0,5 trilhão e 40% da população mundial vive de somente 5% da renda global. Atualmente, 121 milhóes de crianças não tem acesso à educação, 10,6 milhões morrem antes de atingir 5 anos, 1,4 milhão, por falta de água potável, e 2,2 milhões por falta de vacinas.

As catástrofes causadas pelo clima na realidade trazem à tona a insustentabilidade do nosso sistema econômico baseado na ocupação destrutiva e irracional dos espaços geográficos do planeta, onde 75% da humanidade vive em áreas instáveis.

Durante 99% do tempo, o planeta existia sem seres humanos, muitas espécies apareceram, desapareceram e climas mudaram. Precisamos acabar com a prepotência de achar que podemos mudar o clima quando ainda somos incapazes de nos salvar das misérias e das guerras que nós mesmos produzimos.

Precisamos, sim, reduzir a emissão de gases de efeito estufa, como TODA a poluição do ambiente que anualmente causa a morte de milhões de pessoas. Nosso desafio do século é, portanto, usar os recursos empregados nas guerras, especulação e destruição ambiental, para nos ADAPTAR às mudanças climáticas. Se isto tiver um efeito positivo sobre o aquecimento global, que seja bem-vindo.

 

■ Norbert Fenzl é doutor em Hidrogeologia e Diretor Adjunto do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA.

 

Publicado na edição de sexta-feira, 6 de novembro de 2015, do Jornal O Liberal, caderno Atualidades, pág. 2.

Foto: Phil Gyford, disponível em https://flic.kr/p/7Tzkj3, com modificações, licença CC by-nc-sa 2.0